Acto 1. Cena 3 - Personagens: Mulher que fala e mulher que dança. Voz off do homem que ama.
(Palco escuro, apenas iluminada a mulher que fala com luz forte e luz fraca a mulher que escuta e dança ao som das palavras da primeira)
Mulher (1) que fala - (Fala com raiva, baixinho para a plateia) Os homens não amam, não amam, ele nunca me amou, sei agora porque não sorria, porque não me dizia baixinho, porque não dormia bem a meu lado. (Grita) Ora era dor de estômago, as dores de cabeça, ia tomar o brufen a todas as horas. (mais calma) Talvez fosse o brufen que provocasse a amnésia de mim. Sim (grita outra vez), talvez agora se desculpe e me diga que o meu nome estava nas letras pequenas da bula do medicamento. Isso é só o que falta, desculpa, sempre desculpas e eu aqui a amar com todos os meus sentidos, a criar imagens de cenários idílicos, a chorar esse amor que julguei nosso e que é apenas meu (Ri, como louca e fala para uma figura não presente), esse amor que não tens por causa das merdas das letras pequenas do teu brufen. Os homens não amam, não amam pelo menos como nós as mulheres queremos que amem (Vira-se para a segunda mulher que dança). Tu (Grita). Tu deves perceber-me, também deves ter um homem que não te ama, um homem que não te chora, que não chora o amor por ti. Se não sabes, vou dizer-te eu: Os homens não amam, apenas lhes interessam os medicamentos que tiram as dores, do estômago da cabeça, do coração, os medicamentos que lhes tiram as dores e que lhes tiram a nós também. Os homens não amam.
(Silêncio no palco por instantes, a segunda mulher continua a dançar, a primeira mulher pára e olha para longe)
(Voz off, Homem que fala) - Nós amamos, eu amo, eu amei, agora apenas não te amo. Disso não tens culpa, não te amar a ti não quer dizer que não ame, que não chore, que não lembre, que não recorde. Não te amo, (eco) apenas a ti.
(Segunda mulher ri bem alto, na sua camisa um coração grande)
(Primeira mulher cai)
Termina a cena.
Fotografia - autor desconhecido.
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