1/28/2010

Negro.




Ela penteava-se todos os dias na manhã que ainda não era manhã, nas horas mortas de não serem nem noite nem dia. Ela penteava-se sempre, o cabelo armado, o pente, depois a escova, depois a laca, depois o pente e depois a laca. No fim sorria, um sorriso frágil como se segurasse todo o mundo nas linhas finas dos lábios, como se carregasse todas as palavras de todas as pessoas do mundo nas linhas finas dos lábios. No fim, levantava-se, vestia as vestes negras, sempre as mesmas, apesar de todos os dias aos olhos dos outros parecerem diferente, sempre foi assim, toda a sua vida, a vida toda. O negro no coração, no sorriso das palavras todas do mundo carregadas nos lábios, em todo o peso do mundo preso nos lábios, nas vestes negras, sempre as mesmas e sempre a parecerem diferentes aos outros. A ela não.






Fotografia - autor desconhecido

1 Comentários:

Guma disse...

Edgar, boa tarde.
Obrigado pelo teu comentário que me sensibilizou.
Venho aqui agradecer e acabei por me demorar um pouco e concluo dizendo que quem escreve assim tem muita poesia dentro de si, magia de conquistar a atenção até ao fim.
Obrigado e recebe um forte kandandu

 
 
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