Horas do coração.

As horas marcadas no relógio nunca são as horas reais. O verdadeiro tempo é sempre o tempo do bombear do sangue, sempre marcado pelo coração, pelo acto de passagem, ventrículo, aurícula, ventrículo, aurícula. Sempre o coração nos moveu a todos, moveu também os tempos, primaveras, verões, outonos, invernos, primaveras, num encadear de batidas fortes, fracas, fortes e fracas, a lembrar-nos que o que vemos é o que o coração nos permite ver, porque mesmo no olhar nos corre o sangue que passa de aurículas a ventrículos, depois artérias, depois as veias, depois os capilares, todos. O amor também será sempre de sangue, o coração comanda a vida, amo-te do coração do coração que comanda a vida e que me diz se uma hora é uma hora, ou se a espera por ti demora mais, ou se o tempo que estou contigo passa em abrir e piscar de olhos e beijos de olhos abertos, e beijos de olhos fechados, e beijos de olhos abertos e abraços, quentes. Espero por ti, sempre espero por ti, nessa espera o sangue no coração, o amor no coração, o sangue e o amor no coração e a vida a existir por isso tudo. Somos amor de coração e amor de sangue e amor de coração porque sabemos escutar, não vamos em vaidades de dias de namorados, arraiais ou futebois, não andamos com pressas de chegar à frente, ouvimos o coração e andamos ao ritmo do seu bombardear, vamos no tempo verdadeiro da vida, acompanhado pela luz fraca do sol ao nascer do dia e pela luz fraca do sol ao morrer do dia, abraçados, em coretos de braços estendidos a tocar a lua, a embalar as estrelas, a sentir o sangue na lua, a ver o palpitar dos brilhos dos cometas ao som do som sincrónico dos nossos corações; a tapada ao longe, mas isso não é importante.

Amo-te, daqui até ao céu, mas isso tu já sabes; Aurícula, ventrículo, aurícula; até que a vida queira.

Fotografia - othepjavier