1/19/2011

As palmas das mãos. Voltadas.



Como se segurasse o mundo nas mãos, ele estava parado. As palmas das mãos voltadas para o céu, olhava o desenho das linhas onde lhe tinham lido o futuro como se as linhas não fossem mais que letras de um qualquer dialecto que foge ao entendimento das pessoas do mundo. Ele parado no meio do jardim, à sua volta as árvores que ameaçam tocar o céu, por baixo dos seus pés jazia a sua sombra, encolhida como quem tem vergonha, ou como quem é pequeno face à força da luz. As palmas das mãos viradas, humedecidas pelo ar que corria naquele espaço, abertas como o corpo que espera o abraço, abertas como a boca que espera o sussurro mudo de outra boca, abertas como o coração que magnetiza outro coração, abertas como a alma que percorre o corpo e que impede a morte de tomar forma e de fechar todas as coisas. O tempo passou sem que notasse, as árvores escureceram e as mãos brilharam com o brilho que só a luz da lua dá às coisas, o ar cada vez mais húmido e frio. Só depois, quando a sombra começou a crescer ele fechou as mãos, olhou à volta e caminhou pelo mundo fora.

17 Comentários:

Paasch disse...

Olá,

Gostei imenso especialmente da palavra dialecto.

Cheers!

100 remos disse...

Na palma da mão pode caber o mundo.

Edgar Semedo disse...

Olá Paasch,

confesso que gosto mais do significado da palavra do que do seu significante,

tudo de bom,

Edgar Semedo

Edgar Semedo disse...

Olá 100 remos,

bem verdade o que dizes, sempre acreditei nesse poder oculto das mãos. Daí achar as mãos uma das partes mais importantes, e mais bonitas, do corpo humano.

Bjo

Edgar Semedo disse...

Aliás, com as mãos se embala e com as mãos se mata,

é um poder quase divino.

Bjo

Isa GT disse...

Fartam-se de trabalhar... excepto as dos políticos... esses usam mais a língua ;)

Bjos

Edgar Semedo disse...

Olá Isa,

também é verdade, grande parte do trabalho faz-se com as mãos.

Bjo

Paasch disse...

E quem é o significante?

Edgar Semedo disse...

Olá Paasch,

boa pergunta!

Tudo de bom,

Edgar Semedo

Paasch disse...

Sim! Sim! Sim! Já descobri!

O significante é o sentido estético da coisa.
O significado é o conteúdo!

Sim, eu também! Dialecto é uma palavra bonita. Mas agora com o acordo octográfico é escrito sem c, logo não tem piada nenhuma.

O significado é universal sempre, mas o significante é pessoal, cada leitor tem uma imagem única de cada palavra. Mas sabes, a vida é injusta até na qualidade da beleza da palavra. Porque quando sabemos de antemão o significado desta, o significante fica impuro, pois no fundo nunca sabemos se gostamos da palavra ou não. A imagem fica associada à matéria subsistente.

Tal como as pessoas e os gestos. O contorno é significante até ao ponto de a conhecermos melhor. Depois o significado de cada gesto influencia para bem ou para mal o significante.

Autêntico mistério.

Cheers!

Edgar Semedo disse...

Olá,

entendo o significante de uma palavra como o sentido que lhe atribuo em função do meu quadro conceptual.

Quantos às pessoas, essas são mais mutáveis que as palavras, daí ser necessário mais que significados e significantes para lhes entender a essência.

Tudo de bom,

Edgar Semedo

Paasch disse...

Olá,

eu por outro lado já desisti de as entender. Agora só consciencializo a beleza delas.

Tudo de bom,

Paasch

Edgar Semedo disse...

Olá,

não sei o que te responder, pois não sei se falas das palavras, ou das pessoas, ou das duas.

Tudo de bom,

Edgar Semedo

Paasch disse...

Olá,

das pessoas. Tenho um grande ego e penso compreender as palavras. XD

Tudo de bom,

Paasch.

Edgar Semedo disse...

Olá,

os egos são uma seca. :D

As pessoas são mundos não gravitacionais.

Tudo de bom,

Edgar Semedo

Anónimo disse...

Tão verdade o que dizes. Tenho que deixar este meu ego de pensar que compreendo as palavras.

Ao desistir do significado, realço o significante.

Olá, tudo de bom, paasch.

Edgar Semedo disse...

Olá Paasch,

esse foi um bom comentário. Nada a responder da minha parte.

Tudo de bom,

Edgar Semedo

 
 
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