1/25/2011

Elevador. O sorriso da vizinha.



Entrou numa grande caixa metálica que poupava aos homens o trabalho de subir e descer. À sua direita um amontoado de botões que reluziam a cor vermelha. Carregou num botão e a porta fechou-se, como se a fechasse num grande buraco de terra asfixiante. O ar estava carregado de perfume e de luz. Uniu as duas mãos, naquela simbiose que apenas duas mãos conseguem, pensou nele e nela. Pensou em si e nas dezenas de passos que dera para passar despercebida, os passos a correr que dera para se esconder atrás das pessoas que andavam na rua na mesma direcção que ela. Depois pensou na música que tinha escutado naquele bar de Jazz onde nunca mais entrou. Lembrou-se dele a tocar-lhe os lábios, os seios, lembrou-se da simbiose das mãos dela nas mãos dele, uma simbiose mais perfeita ainda que a simbiose que agora as suas duas mãos encontravam. Pensou na vizinha que chorava nas noites em que o marido lhe batia com a cabeça na parede. Pensou na vizinha com a mão na mão do marido. No meio dos pensamentos agonizantes, a porta abriu-se. Ouviu-se um som. Felizmente, saiu logo no primeiro andar onde olhou a vizinha que lhe sorriu.

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