1/10/2011

Meia Luz. Sexo.

Os sons metálicos saíam da caixa negra num volume ensurdecedor. Ela a falar alto num tom que roçava a noção de gritar, ele afastado dela tentava captar as palavras no meio da selva de sons que se tinha tornado o espaço que os separava. Quando desiste de falar, ela, sorri; ri alto sem ele conseguir perceber o timbre do seu riso. Ele, por resposta, intuição, sorri de volta. Ela toca-se, toca-se por cima da blusa naquela meia luz que saía de um pequeno candeeiro de mesa que tinha a forma de duas estrelas juntas, sem se perceber onde começavam e onde terminavam. A luz tornava a blusa azul brilhante ainda mais brilhante, parecia que o céu inteiro se concentrava naqueles três palmos de tecido cru. Nas paredes surgiram reflexos azuis claros e escuros, como se na parede nua tivessem sido desenhadas nuvens amedrontadas pelo calor que saía dos corpos. Do corpo dela. Do corpo dele. Ele pousa o copo na mesa que estava perto de si, despe o casaco, o peso do nó da gravata começa a sentir-se. Ela despe a blusa. Os seios macios criam no homem a suave imagem do desejo, uma imagem que passa os limites do suportável, sente o sexo crescer junto a si, a crescer junto da vontade de agarrar a mulher, morder-lhe as orelhas e dizer-lhe ouvímo-nos melhor quando não percebo o tom da tua voz, nesses momentos amo-te, desejo-te. Como se a barreira dos problemas entre os dois fosse o som, a qualidade ou volume deste. Os dois escolhiam as palavras criteriosamente por momentos e circunstâncias, era essa a magia de existirem fode-me que soavam a amo-te tanto e amo-te tanto que não significavam coisa nenhuma, sendo apenas o som de um punhal a atravessar a carne quente de que é feito o coração. Brincavam com isso. Era como uma luta em que um teria que perder para ganhar o outro. O homem tira a camisa deixando a descoberto a caixa onde guardava todo o sentimento que nutria por ela. Ela tirava as calças com movimentos lentos criando a ilusão de não ter consciência do tempo que rege esse mundo. Quando se encontraram, quando o corpo dela encontrou o frio do chão ela gemeu-lhe ao ouvido e ele tocou-lhe a humidade do sexo, como se o sexo dela fosse uma concha e ele estivesse sempre ali para a proteger. Não falaram enquanto ela lhe tocava o corpo mas o corpo ia falando através dos sons mudos que só os corpos entendem. Amaram-se no chão como se o corpo dela fosse a terra e o corpo dele enormes gotas de chuva que caíam sobre ela, uma a uma, enquanto ele respirava sobre a cabeça dela e ela respirava sobre a cabeça dele. Ambos sabiam que nesse momento se entendiam, e isso era tudo o que importava.

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