1/02/2011

A mulher na noite sem armas.


As luzes dos prédios. A estrada viva à minha frente, os carros, o cheiro a fumo dos carros. Noite. Uma noite alta de brilhos translúcidos, nuvens baixas, brancas. A mulher deambulava de um lado ou outro da estrada, saltos altos vermelhos, saia justa, acima do joelho, muito acima, camisola de lã, justa ao corpo, preto, o doce e clássico preto. Os semáforos, a espera, amarelo, vermelho, parar, verde, avançar. A mulher do lado direito da rua, do lado dos carros que vêm, o batom na mala, o espelho, as mãos, os lábios vermelhos. Os carros, as mulheres, os homens. A noite não pára, a vida não pára, a mulher não pára no frio da noite no quente da estrada. Eu, assisto apenas a essa vida secreta que existe nas cidades à vista desarmada, à mão desarmada, sem armas nas mãos, nos braços, no corpo, sem pistolas, metralhadoras, granadas, sem amor, sem corações, com brilhos, muito brilho, prata, ouro, mas sem alma, sem penas, sem barulho de restolhar de penas, sem nada.

1 Comentários:

amoaescrita disse...

...são mulheres desprovidas de tudo e com as mãos cheias de nada, mas que ao contrário de todas as outras, aceitaram a sua condição de "sem direito ao sonho", conseguindo assim conviver lado a lado com a sua infelicidade, numa parceria de sucesso, até ao fim da vida!

 
 
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