1/07/2011

Os judeus de amor.



Para os judeus de amor

Os judeus de amor escondem os livros debaixo da mesa, debaixo das cadeiras que estão junto das mesas, guardam as frases nas prateleiras do frigorífico, na primeira frases de amor, na segunda frases de desilusão, na terceira frases sobre o encanto do mundo, na quarta frases sobre a beleza das coisas, nas gavetas dos móveis guardam fotografias, dentro das panelas e dos tachos, nos copos e nas canecas colocam as músicas, separando as notas das palavras, à excepção das músicas que não têm palavras porque estas ficam guardadas no açucareiro, escondem os vídeos, as imagens dos vídeos, dentro das pequenas caixas de fósforos minuciosamente empilhadas umas nas outras.  Essas pessoas, os judeus de amor, têm uma faixa violeta à volta do braço, a cor violeta é a cor mais bonita do mundo, disseram-me hoje, é a cor mais bonita do mundo porque não é deste mundo e não é capaz de ser descrita com as palavras deste mundo. Os judeus de amor também não são deste mundo, vivem nele e ao viver nele moldam o mundo à imagem dos seus corações, os seus olhos vêem mais fundo do que os comuns olhos do mundo, dos homens do mundo ou dos judeus do mundo. Eles olham e depois a alegria, a beleza do que é visto torna-se na sua pele, na sua carne, por isso os judeus de amor são sempre pessoas altas, de uma altura difícil de quantificar. Andam quase sempre escondidos, e ainda que se possa pensar que não existem, pasmem-se, eles são reais. Apenas se escondem, ou melhor, apenas deambulam sozinhos no mundo para que não descubram os seus segredos, os seus segredos todos que são apenas dois. O amor é o caminho e a beleza das coisas vale toda uma vida.




Fotografia  - A secret life, por D´Agostino

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