4/06/2011

Ser o que sou, sem saber o que podia ser.



A mulher ziguezagueava pelo jardim onde as flores lhe lembravam coroas às cores. O cheiro sentido no ar como chicotadas era de erva fresca suspensa da terra, a abraçar o ar como quem dança no Hermitage. Perguntava-se sem fazer as perguntas para fora se a sua existência seria o real, se não seria ela mais do que aquilo que conhecia, as palavras, os sons, os cheiros; perguntava-se se conhecesse outras maneiras, outras palavras, outras imagens, ou acordes, ou poemas de outras músicas poderia ser diferente, e, quem sabe, talvez uma pessoa melhor. Só sabemos ser o que conhecemos, concluía. Mas essa conclusão mais do que uma sentença a si própria, era um alívio. Por muito má que fosse, por muito mal que conseguisse fazer, ainda que desferisse com golpes de mil espadas o corpo de alguém, havia a desculpa eu só sei ser o que vi ser e a culpa de não ser o que não sei é apenas do que não se mostrou a mim.

0 Comentários:

 
 
Copyright © Palavras minhas.
Blogger Theme by BloggerThemes Design by Diovo.com