Em pequena inventava-se, sempre fora assim. Uns dias de gato, outros de pássaro de asas fartas de penas pretas, outros de princesa com coroa brilhante feita de corolas de flores azuis e cor-de-rosa e outras brancas com o meio amarelo. Depois, crescera e as invenções mudaram de estilo, inventou-se na cama na primeira vez que disse ser a segunda para não assustar, inventava-se quando fechava os olhos e beijava o príncipe também ele inventado, inventava quando com olhar de lado e palavras ao alto dizia eu não gosto. Inventava porque gostava. Inventar às vezes é negar, pensava por dentro. No dia do casamento inventou um atraso, voltou para trás e disse ter-se esquecido do coração no lavatório junto do pente e das escovas e depois inventou esquecer-se das flores também elas no mesmo sítio. Só depois voltou à igreja e se casou e disse eu amo-te e quero-te e protejo-te e tu proteges-me e eu fodo-te e tu fodes-me a mim e aqui não inventou nada. E os anos passaram, inventou aviões para os filhos, histórias de duendes para aos netos e de fadas para as netas. Inventou quando disse ao príncipe inventado a morte leva-te mas não me leva a mim. Morreu um dia depois. Morreu logo após ter escolhido a roupa para o marido e o vestido preto com bainhas a vermelho com que queria ser enterrada, sobre todo o vestuário, junto das meias e das cuecas dos dois, dobrou um papel em branco onde escreveu eu invento-me mas nunca me nego, nem ao amor, nem ao meu marido, nem em tudo o que existe nessas coisas todas.
5/14/2011
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2 Comentários:
Se calhar há sempre uma excepçãozita à regra... naqueles dias de... dores de cabeça lol
;)
Bjos
Olá Isa,
looooool, o que eu me ri agora.
Bjo
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