6/14/2008

[Lixívia]


Hairy-cell-leukemia-variant


Caminho ou imagino que caminho nessas pedras, essa calçada cinzenta que me acompanha nessa vida onde me esqueço que posso voar. Doem-me as asas, doem-me as asas de tanto tentar matá-las por tanto tentar matar-me. Eu e sempre a morte a meu lado, como as pedras, como os meus sapatos cor de sangue nessas mesmas pedras. Caminho, sem querer saber que posso voar.


[…] Estás a gozar comigo?

[...] Não.


[…] Que queres? – E eu a querer a colher de lixívia que foi para lavar, a colher de lixívia que recusaram dar-me a acompanhar a porcelana do pires do meu café. Ousara eu saber se a lixívia me lavava a alma ou me matava lavando-me a alma na mesma, porque a morte é uma lavagem definitiva sem retorno ou caminhos em pedras de calçada manchadas de sangue pelos meus sapatos.


[…] Espera vou buscar-te outra colher, aquela tinha lixívia.


[…] Estás a gozar comigo?

[…] Não.


[…] Vai lá? – E eu a querer ir, a querer muito ir mas a tristeza a camuflar-me o coração, eu a fingir ser mau, a fingir que não te sinto, eu a desejar a lixívia, a lixívia que me mata para que deixe de sentir que quero ir, para deixar de sentir que te sinto.

[…] Estás a gozar comigo?

[…] Não.





[…] Vim aqui porque não conseguia dormir a pensar na colher de lixívia que não me deixaram beber.

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