9/10/2009

Chuva.


Cinco e meia, cinco e meia e tudo me falta. Olho a rua, a porta aberta, o céu de um azul cinzento, começa a chuva do impedimento. A chuva cor de nada, cor de chuva, cheiro dela, cheiro das cores sem cor, impede-me de voltar a casa, agora que tinha decidido sair, sair dos espaços grandes, dos espaços onde a casa nos soa como paraísos e lugares distantes. A minha casa é um lugar distante, já tive casas em vários sítios, agora a minha casa, as minhas casas ficam longe, casa é onde nos sentimos bem, a minha casa é onde a chuva não me deixa ir. A chuva é como sangue, o meu sangue, antes fosse a minha morte porque tudo é triste agora. É nestes dias abafados, calor sufocante de trazer palavras entaladas na garganta, que vêm as trovoadas, raios e trovões de fúrias, fúrias de Deus e das minhas, tenho tantas, minhas, de mim e para mim. A chuva cai sobre a terra calcada dos passos de todos e dos meus também, o barulho ensurdecedor das gotas é como lâminas a fatiarem-me os presentes, os tempos presentes. Sou feliz apenas nesse silêncio onde não escuto as palavras, onde não interpreto os pensamentos que não são meus, sou feliz nesse silêncio de não ser nada.
Agora, nesse presente onde me sinto só e onde o meu coração e entendimento sentem a falta daqueles que são a minha casa estou triste. Pinto, leio, nunca choro, não percebi na altura mas agora tenho essas palavras cravadas na pele e a imagem que sempre gostei apenas agora lhe retiro o significado.

imagem - KarlusFilipe

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