12/04/2009

Veludo, tom papel dos venenos todos.



Cinco e meia e noite escura. Noite escura entre as cinco e meia, cento e vinte cinco em número dourado bem gravado na ombreira da porta. Abro, abrem-me a porta para não me esforçar, deixo cair o casaco que alguém apanha e guarda junto às vísceras de Pandora. Ando metros a sentir caminhar quilómetros, dezenas de passos sentidos como passeios à costa, sento-me. O cheiro é de veludo de papel, o papel vermelho sangue das paredes, a mesa grande, a cadeira grande, trono do mundo, o copo em frente, venenos. Bebo venenos, a saborear todos os segundos, o som é o cheiro a cigarro da solista e do homem que toca saxofone que a acompanha. Bebo os venenos aos golos, agito o copo vezes e vezes sem conta na velocidade de rotação dos mundos, primeiros dos deles, depois dos meus. O candeeiro brilha numa luz que é baixa de virtude e de egoísmo, no princípio era a luz, no fim é sempre a luz baixa dos egoísmos e faltas de virtudes. A mulher canta o cheiro a veludo, bebo venenos a saberem a Pessoa, a cheirarem a tabacarias irreais, os cigarros saem-me do bolso, encho a cigarreira de ócios e pecados, é pequena, é grande o copo. Mais veneno se faz favor, do amarelo, vermelho, a ver se sai negro, cheira-me a veludo do papel, veludo é o tacto da morte por venenos e cigarros das vozes. Fecho a cigarreira, meio cheia, meio vazia, Pessoa atormenta-me a mente, alguém o canta, e se eu o vivo, amanha morro.

Foto -Blog.dcarlos.com.br

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