4/18/2010

Quilómetro 0





Choveu durante toda aquela manhã, as pessoas protegiam-se como podiam, os pés aceleravam o ritmo dos seus passos contornando as poças de água que se iam formando aqui e ali. O sol mal espreitou, não esteve frio. As pessoas amontoavam-se sobre os toldos que serviam de tecto de abrigo daquela rua tão magicamente adormecida. Eram onze horas e estávamos à porta do Mosteiro, nós e centenas de turistas de máquinas na mão a captarem a alma das coisas, de livros quadrados na mão, os mapas a saltarem dos bolsos e com a admiração a rasgar os lábios. Não tardou a nossa entrada

somos 41.

podem entrar, vou ser o vosso guia.

seguiu-se uma hora e meia de viagem, hora e meia de admiração e espanto, hora e meia de alegria, hora e meia de orgulho patriótico, hora e meio de sonho e fantasia sobre o olhar atento das gárgulas que guardam o mosteiro, que guardam os túmulos de grandes homens e grandes mulheres de Portugal. A horas tantas, alguém pergunta

está vivo lá dentro?

e depois a resposta sábia

há pessoas que nunca morrem.

e depois a admiração, quase tanta admiração como a descoberta da fonte do leão, a fonte dos desejos e depois todas as mãos a tocarem as patas do leão e na mente mil e um desejos de felicidade, de amizade, de sorrisos.

Belém aqueceu mais ainda. O tempo não melhorou e a entrada no forte português foi difícil, a rebentação das ondas molhou quase todas as pernas dos pequenos descobridores, risos. Foi tempo, então, da admiração dos canhões de verdade, a história de soldados, de guaridas, os sentinelas, os escutas, os piratas, a apoteose espreitar as masmorras. No fim, sem se avistarem piratas saímos da torre e caminhámos um pouco.

Quando tudo estava a terminar, olho e escrito no alcatrão da estrada Quilómetro Zero. Belém é o ponto de partida para muito, Belém foi e é o meu ponto de partida, Belém é local de sonhos, de prenúncios das águas, é o lugar do velho do Restelo, dos fantasmas de Adamastor, de choro das mulheres e do suor dos homens. Belém é um lugar grande. Belém é o meu lugar grande. Lisboa não é a cidade perfeita mas é o meu quilómetro 0, é o meu abraço amigo de onde tudo o resto parece mais simples.

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