5/26/2010

Vem olhar o rio onde a vida passa.





Foi com as mãos a tremer que ela recebeu a carta dele. Passaram dez anos desde as suas últimas palavras, ela não se lembra se algum dia viu o traço da sua caligrafa e agora à sua frente, no colo das suas mãos, estava o nome dela bem ao centro do envelope. A letra fora bem vincada no papel sedoso, foi quando ela passou o tacto pelo seu nome que num suspiro ouviu a música de sempre, a música deles, a Ana Carolina a sussurrar vem olhar o rio onde a vida passa. O tempo em que recebeu a carta e a carregou foi toda uma vida, chorou, não sabia se dentro do envelope estava um passado ou um futuro, não conseguia discernir o que mais a magoava. Olhava o nome, o tacto do nome no centro do envelope, as palavras da música cantada. Sabia que não esperava nada, mas sabia também que desejava muito

Ele deixou-me

sem explicação; na casa dele quando chegou estava apenas a música, ainda se lembra das palavras vem olhar o rio onde a vida passa. Agora neste instante em forma de vida não abriu o envelope, queimou-o, a chama matou a ruga do papel que tinha a forma do seu nome, pode nesse momento ter queimado um passado, ou um futuro. Nunca o vai saber. Afinal, para ela, para ele, são águas passadas, ou não.

2 Comentários:

Isa GT disse...

Tenho andado por aqui a ler os posts, mas é engraçado, parece que dizem tudo e não fica nada para comentar :)

Edgar Semedo disse...

Olá IsaGT,

obrigado, mais uma vez, pela visita, fico contente de os meus post dizerem alguma coisa a alguém, fico triste pelos não comentários :).

Tudo de bom,

E.

 
 
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