Andamos em pés de lã por toda a casa, andámos em corredores de paredes brancas, pretas, azuis. Todos os quadros na parede a olharem para nós com os olhos bem escondidos, o murmúrio dos filmes longe e às vezes perto, depois as estátuas com sexo no nariz, na boca, nos olhos, com sexo por toda a parte como no mundo. Sexo por toda a parte menos na parte de baixo da burca que cai no chão e esmaga a vida que não se sabe se havia por dentro dela. A burca que foi costurada por mulheres à janela, à escuridão de uma janela que não deixa passar a luz. Depois debaixo das nossas blusas, calças, sapatos, pedidos de ajuda ou apenas um olá tudo bem costurado na máxima sangue, suor e lágrimas. Depois nós a sentirmo-nos mal e a repetirmos Bangladesh, Bangladesh, Bangladesh. No final o sótão da casa, dois gémeos a parecerem mil, a gritarem ao vidro de uma porta vocês não sabem nos amar e a mostrar todo um mundo ao contrário, de cor amarelo chinês cheio de estrelas e portas, trincos, vidros, brilhos, um mundo de sons inventados nas horas a saírem de bocas sorridentes de pequenos homens de cabelo cor castanho. No fim uma pequena casa, modelo de história de capuchinho vermelho, mas sem capuchinho, lobo, caçador, avó ou bolinhos, na casa apenas muitos espelhos e infinitos de mim por toda a parte. Não tive medo de infinitos de mim, e se não tenho medo de mim não tenho medo de ninguém. Bangladesh que não me sais da memória. Pra quem mora lá, o céu é lá, dizem a sorrir os gémeos que inventaram o sótão.
Imgem - Exposição Os gémeos; Berardo, 2010.
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