9/27/2010

A caixa.



Havia uma caixa mágica que a velha colocou na cadeira em frente do seu espaço no comboio. A caixa era rectangular, papel velho como as rugas que a mulher tinha na face, na caixa estava escrito sapatos, o papel era grosso e sabia-se, bastava olhar para se saber, que aquela caixa sobrevivera à chuva, ao sol quente das tardes de verão, ao toque diário das mãos daquela mulher. A mulher vestia blusa creme e calças castanhas, estava sentada e olhava a caixa. De tempos em tempos abria a caixa e retirava lá de dentro, lentamente, como quem segura um filho, objectos que depois olhava e guardava no mesmo espaço como se nunca de lá se tivessem ausentado. Primeiro tirou a fome, depois tirou uma fogueira, depois o vento, tirou um punhado de terra que podia ser a terra toda do mundo, tirou uma canção, tirou a tristeza, tirou uma lágrima, tirou a magia, tirou um oceano, tirou a tirania. No fim, acariciou cada objecto como se os visse pela primeira vez, depois, um a um, foi-os colocando nos seus espaços, nos mesmos instantes da partida. Fechou a caixa, o comboio parou e a velha saiu.

2 Comentários:

Isa GT disse...

Grande pequena caixa ;)

Bjos

Edgar Semedo disse...

:) bjo Isa GT

 
 
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