O extremo onde se encontrava o café na faculdade era um círculo perfeito. Na circunferência existiam pequenos pontos de luz que tinham também a função de aquecer nos dias de inverno. Naquele dia, a baixa temperatura contrastava com a elevada humidade do ar, ele sorria. Sempre gostara dessa humidade que ficava no ar relembrando que havia chorado sobre o mundo. Enquanto se demorava a olhar o espaço que existia dentro daquele círculo pensou no primeiro dia em que ali estivera, mais do que pensar sentiu uma e outra vez aquilo que repetidas vezes sentiu uma e outra vez. A solidão. Não era o frio que incomodava mas sim o silêncio, o silêncio de vozes, risos, o silêncio do calor que é estar e olhar nos olhos e não precisar de dizer mais nada. Achava que nunca mais voltaria ali, recordar mais que viver é sentir e sentir muitas vezes é sofrer. Ao longo dos anos a solidão foi-se esbatendo e a vida daquele homem foi sendo palco de várias personagens através das quais ia declamando poemas e sonetos aos outros, a sorrir. A solidão voltou em silêncio sem sussurrar um único verso. O homem sentiu isso, mas não fechou o coração, não fez sequer qualquer tipo de força. A solidão começou a ser o homem inteiro e o homem inteiro não era mais que a solidão que o habitava. Ficou assim até ao instante que o encontrei no café onde jurou não voltar, não o achei triste; apenas e irremediavelmente só. Na cara inexpressiva do homem julgo ter lido
aqui é a minha casa porque o meu corpo é este círculo e a minha alma tem a cor dessa saudade que habita a humidade do ar nos instantes após a chuva.
Esse homem podia bem ter sido eu (silêncio).
4 Comentários:
Olá, Edgar.
Há quem sinta solidão com barulho, mas aconchego com silêncio.
Adorei.
Abraço.
Olá,
é verdade como o mesmo estado de espírito pode ter o seu ponto zero em situações tão diferentes,
Abraço,
Edgar Semedo
Neste exacto momento não estou só, mas na companhia de uma magnífica e exuberante insónia, desde as 2h da manhã, e o despertador vai tocar dentro de 5 minutos :))
Bjos
Olá Isa,
parece que a noite de ontem não foi uma boa noite para quase ninguém, eu incluído. Muitas das pessoas com quem me cruzei falaram-me da inconstância da noite. Chego até "a por-me a adivinhar", como diz a minha avó, que o sono também fez greve.
Beijo
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