Ele batia-lhe. Esta era a verdade. Batia-lhe. Não era sempre, mas o corpo marcado a negro conseguia reflectir o brilho dos olhos cor do álcool, do brilho dos copos que o homem segurava a brindar a vida, a sua, nada mais que a sua. No início tinha sido amor, ela achava que sim, há coisas que nunca mudam, repetia ela, chorava ela, pensava
recebo-te por minha mulher, prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te,
não existiam dúvidas que ela era a mulher dele, uma mulher de burca invisível, olhos pequenos de medo, ainda assim a mulher a quem ele jurara fidelidade, amor e respeito. Um respeito que era esquecido em noites de álcool, uma fidelidade que terminava na primeira estocada no corpo das outras que ele também não respeitava. Ela tinha pena delas, mais do que de si, ela era a mulher dele, era a carne da carne, elas apenas a carne. Dizia, para si, em silêncio
elas nunca choraram por ti.
Ela fingia não saber, sabia que era o álcool e quando não era o álcool a culpa haveria de ser das suas saias compridas fora de moda, ou das cicatrizes do braço. Ele era um bom marido, o marido a quem ela jurara
amor, fidelidade, respeito
eu choro e espero-te. Deus vai guardar-me da morte. Deus vai guardar-me da morte. Outras vezes dizia, Deus vai guardar-me da morte apesar de me não ter guardado de ti.
4 Comentários:
Um bom texto...
Todos contra a violência Doméstica!!!
abraço
Olá Helena,
sim, todos contra a violência.
Beijo
só as palavras de descrição nos fazem morder o coração por dentro. Imaginemos então, se realmente vivêssemos essa realidade. Está na hora de todos juntos a pararmos.
excelente texto (:
Olá m.sushine,
o nosso coração morria ao viver essa realidade.
Obrigado pela visita,
tudo de bom,
Edgar Semedo
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