1/06/2011

O acaso dos prédios às cores.



Todas as pessoas a serem completos estranhos. A rua, o vento, o ar gelado a entrar-lhe nos pulmões. Ele a rebentar por dentro.  Olhar ecléctico, a ver além do visível, além do invisível, ele vê dentro das coisas, vê as coisas que acontecem por dentro e só depois saem para fora numa espécie de libertação ou condenação, já não sabe. A cidade alta, as casas desniveladas de várias cores, ele a sorrir, depois a pensar na imensa pena que tem por não existir ninguém no mundo que ache piada a essa assimetria, a essa paleta de cores que estão ali pelo acaso das mãos de vários homens que não souberam sequer estar a construir uma das maiores belezas do mundo; o acaso. Ele tem pena porque depois da sua morte  ninguém vai achar piada às casas, sorrir para elas, perder-se na escuta do coração dos prédios, a intensa vontade de conhecer as almas que lá moraram, as almas que agora são a terra, ou chuva que limpa as paredes em dias cinzentos. Ele tem pena de muitas coisas; sempre, ou quase sempre, tem pena da forma como vê acontecer, da tristeza imensa de sentir mais que todos os outros, tem pena de não poder correr todas as estradas, visitar todas as casas, falar com todas as pessoas. Ele tem pena de, assim, não conhecer o caos completo, o acaso enorme que é o mundo e as pessoas que estão no mundo e o mundo que são todas as estradas, todas as casas e todas as pessoas. 


Fotografia Street, por Liv-colour.

2 Comentários:

Isa GT disse...

Detesto o caos, gosto de acasos felizes, adoro a organização e o método embalado na rotina e, só assim, me sobra tempo para olhar... o acaso dos prédios às cores ;)

Bjos

Edgar Semedo disse...

Olá,

não podia concordar mais!

Bjo

 
 
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