2/13/2011

Comprimidos na mão. O frio.




A rua toda. As luzes amarelas como bolas gigantes de luz desfocada, névoa, o pó que resta das estrelas, eu como fantasma encantado, as vestes leves, o cabelo brilhante, a pele branca, as mãos frias, a vida depois da morte.  Ando pela cidade, olho sem ver, leio as palavras escritas na parede como se fossem partes soltas de histórias que alguém quis expor em código para que descobrisse de que matéria são feitos os homens. A violência. As vozes ao longe, por dentro o silêncio gordo das palavras com corpo. A morte por dentro. As mãos no bolso, os comprimidos na mão. Os comprimidos a entrarem em mim, a encherem-me os pulmões de riso, de azul cor do mar, o mar inteiro que é igual à minha alma; a alma que é o que resta de mim, depois de tirado tudo o resto.  O coração aos bocados, mil bocados divididos em outros mil. A mente a ficar leve, a droga a drogar-me o corpo todo. Na mão continua a morte, a morte violenta que é a ausência de vida, a morte que me matou ainda quando o meu sangue latejava. As vozes mais perto, eu a rir cada vez mais alto junto à parede amarela onde está escrito

vive e deixa viver

eu beijo o cigarro feito de sonhos. Beijo os meus dedos longos. Está frio. Volto a caminhar e não paro para ler.

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