Gosto do mistério que só os dias cinzentos têm. Os pés frios, a dor de andar sem destino dentro da cabeça. Depois os segundos em que o sol espreita, o tempo mínimo em que o calor beija a pele, o tempo mínimo em que a alma escalda. Tenho na pele lisa tantas palavras tatuadas, todos os meus diálogos de minúcia cirúrgica. Sabes, às vezes, tanta vez, canso-me de mim e de todas as minhas coisas, canso-me das minhas palavras sem sentido mas que explicam as coisas todas. Canso-me tanta vez.
...
- É assim que deve ser a vida?
- A vida é o que quisermos.
- Pois. Eu não quero.
- A vida?
- Sim, e todas as coisas dentro da vida.
...
Está frio. O sol espreita, no cinzento descubro réstias de luz, pontos cintilantes de purpurinas prateadas como se a vida estivesse em festa. O som do vento embala-me. O frio nos pés. As coisas cansadas, todas as coisas, os meus olhos a fecharem-se ao vento frio. No escuro há toda a vida que acontece de olhos fechados.
...
- Quando eu não sorrio, não quer dizer que não queira sorrir.
- E porque não?
- Está frio.
- Onde?
- Em todo o lado.
2 Comentários:
Realmente o mundo está a ficar um sítio muito frio... mas "espernear" aquece e enquanto há vida há...
Bjos
esperança.
bjo Isa.
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