3/24/2011

O silêncio que mata. A corda suspensa.



Deitado na cama, ele tocava os lençóis impecavelmente brancos. O corpo nú contrastava com os brilhos que o dia generosamente fazia entrar pelas janelas entreabertas. No ar um silêncio sepulcral, frio como as paredes da casa. O homem virava-se várias vezes e o corpo enrolava-se em si próprio e as mãos tocavam os pés e as mãos encontravam-se e o homem abraçava-se a si próprio, como se ensaiasse consigo uma dança etérea. As feições do homem pouco mudavam, à excepção de uma ou outra lágrima que caía e que desenhava círculos no interior da cama, enchendo de mácula os lençóis. O silêncio sentia-se como uma corda à volta do pescoço. O homem sentia-se e isso doía-lhe, doía-lhe no peito e nos olhos onde o homem tinha o coração a latejar. Foi assim muito tempo, o silêncio durou a eternidade que muitas horas têm. As horas muitas vezes são perguntas e há muita coisa dentro das perguntas que são horas, principalmente no tempo em que nos olhámos por dentro e percebemos que ninguém ousará olhar-nos dessa forma, por puro medo de nós, do homem, de si próprios. Depois choramos, e nesse chorar não existe nenhuma réstia de cobardia, pelo contrário, tudo isso é valentia de recusarmos a corda que suspensa no silêncio poderia ser a nossa morte. Fácil.





2 Comentários:

Isa GT disse...

Quanto a isto não tenho dúvidas, se vamos estar uma eternidade mortos, não vale mesmo a pena abreviar o processo, nem nas alturas que pensamos não aguentar mais... aguentamos, sempre mais do que aquilo que imaginamos, basta pensar que amanhã é outro dia para recomeçar de novo.

Bjos

Edgar Semedo disse...

Olá Isa,

penso da mesma forma, e viver assim é viver imensamente, a morte essa deixamos para um dia.

Bjo

 
 
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