5/01/2011

O cheiro da canela e erva doce.




Ela caminhava como se voasse. Por ali, depois um pouco mais à frente. As pedras na rua eram suaves e o som que ecoava era apenas o toque dos sapatos nas pedras, depois, um pouco mais tarde, o bater das gotas cheias da chuva no chão. A mulher vestia um vestido preto, meias opacas, o cabelo solto e brilhante, as unhas pintadas, mala de mão. Por dentro perguntava-se sobre a classe de amor em que acreditava, um amor de aspecto nuvens, leve e denso, quente, capaz de sintetizar o sentido da vida, o amor que tudo supera, que tudo sofre com esperança, o amor da calma desvairada pelo suspiro de uma palavra ou o toque suave e firme de uma mão a tocar a sua. O seu coração não descansava desde que decidira perseguir o amor. Conquistar. Povoar. Só depois viver. Tinham sido essas as ideias de todos os dias, o amor, o amor, o amor. O coração impaciente, as horas à janela, os quilómetros perseguidos nessa angústia de ouvir as lágrimas por dentro, o quente do sangue dentro do corpo, o cheiro da canela e erva doce por todo o lado. O amor deve ser esse cheiro, ter esse cheiro, viver dele, alimentar-se, aumentar-se, pensava nisso tanta vez. Depois cruxificava-se com as notas das músicas, os versos dos poemas, as frases pendentes dos livros que lia e empilhava nas estantes sabendo que naquelas coordenadas estariam as histórias que ela haveria de viver um dia. O amor. O amor todos os dias em todas as horas. Uma vez pensou que quem comete tais desígnios, os pensamentos frequentes, é quem menos vive o amor, ao contrário de quem vive sem pensar. Seria? Ela criou a resposta mecânica de pensar para gozar melhor, aproveitar, queimar o mau para dormir com o bom no dia exacto em que o encontrasse, o dia em que o coração dela dissesse é isto o amor e ela consciente sorrir e dizer aqui me tens.


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