5/03/2011

Os pelos.



Ele cortava os pelos púbicos todos os meses com uma tesoura de metal, uma tesoura enfiada nas mãos como dois anéis brilhantes. Nu. A água a escorrer pelo corpo, o vapor de água no espaço perdido dos encontros consigo. Pensava nas mãos, no coração, na pele lisa. Pensava na solidão que lhe molhava os olhos abertos, os poemas inventados e medíocres nos lábios

o meu coração dentro de uma caixa de veludo
onde sussurraste o segredo grande que te habita,
como se fosses grande nesse suspiro.
Restolham as almas juntas, lado a lado,
as almas perdidas desprovidas de amor
que queres amar à força bruta da máquina,
ri-te ou chora, já não me importa.

pensava nas fotografias nas paredes. O chão varrido. A vassoura encostada à porta. A roupa aos pés da cama. O cheiro a jasmim e mentol pela casa. Os pelos púbicos a desaparecerem com a água como se não tivessem crescido no corpo.


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