12/16/2009

Cristo negro no Natal de ruas de casas altas onde se ouvem os cintos

O caminho longo por norma é sempre escuro. As ruas de casas altas não murmuram ao passar dos segredos dos ventos, todos eles, dos quentes e dos muitos frios. Os segredos são quase sempre frios. As casas altas têm janelas fechadas de olhos e palavras, as casas não vêem, as casas não falam, quase sempre. Também os segredos são como as casas, geralmente altos, fechados, cegos. É Natal nessas ruas de casas altas, não nas baixas, sim nas altas. Se o Natal é quando um homem quiser também só é Natal onde os homens quiserem, quis eu que fosse nas ruas de casas altas, em todas as casas menos uma. Numa casa não era Natal porque o portão negro, ferro forjado de trazer acidentes vasculares por norma, não deixava os espíritos entrar e se não entravam os maus o Natal também não, pois nem sempre o Natal é bom. A tristeza da casa do portão de ferro forjado na rua de casas altas eram os gritos das crianças, os gritos de não Natal, de não presentes, de não alegria, gritos de trazer cintos por casa, marcados na pele, gritos de mães loucas e tias de unhas compridas, manicures francesas e cheiros de bordéis insanos, loucos , isto é tudo. O portão fechava tudo, tudo de bom, muito de mau. Por cima do portão, primeiros e segundos andares, Natal neles todos, as árvores montadas sobre luz de velas, cheiros de mirra e gotas de sangue nos ramos de azevinho, presépios montados, o cristo negro nas palhas deitado e a mãe a adorar, a a mãe de Cristo a amar, a estrela a brilhar, o burro, a vaca e tudo o resto, musgo, musgo pisado de passos alegres, apressados que a vida não está para vagares, pelo menos aqui. O meu Cristo este ano é negro, como o do primeiro esquerdo, do segundo e do outro depois do segundo. E, curiosamente, nunca foi tão bonito.

Feliz Natal.

Imagem -http://popartmachine.com/

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