2/13/2011

Cirurgia ao frio.



Gosto do mistério que só os dias cinzentos têm. Os pés frios, a dor de andar sem destino dentro da cabeça. Depois os segundos em que o sol espreita, o tempo mínimo em que o calor beija a pele, o tempo mínimo em que a alma escalda. Tenho na pele lisa tantas palavras tatuadas, todos os meus diálogos de minúcia cirúrgica. Sabes, às vezes, tanta vez, canso-me de mim e de todas as minhas coisas, canso-me das minhas palavras sem sentido mas que explicam as coisas todas. Canso-me tanta vez.

...

- É assim que deve ser a vida?

- A vida é o que quisermos.

- Pois. Eu não quero.

- A vida?

- Sim, e todas as coisas dentro da vida.

...

Está frio. O sol espreita, no cinzento descubro réstias de luz, pontos cintilantes de purpurinas prateadas como se a vida estivesse em festa. som do vento embala-me. O frio nos pés. As coisas cansadas, todas as coisas, os meus olhos a fecharem-se ao vento frio. No escuro há toda a vida que acontece de olhos fechados.

...

- Quando eu não sorrio, não quer dizer que não queira sorrir.

- E porque não?

- Está frio.

- Onde?

- Em todo o lado.

2 Comentários:

Isa GT disse...

Realmente o mundo está a ficar um sítio muito frio... mas "espernear" aquece e enquanto há vida há...

Bjos

Edgar Semedo disse...

esperança.

bjo Isa.

 
 
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