4/18/2011

Eu vi nascer um amor no meio de águas paradas.



O escuro da noite dançava na praia, a areia transformava-se em pequenos grãos mágicos que pareciam cobrir os grandes segredos da terra, o mar estava calmo. Ela estava serena. Do lugar onde estava conseguia notar os reflexos que o cabelo da mulher ia tendo na água, como se a beijasse, como se sempre a tivesse beijado e aquele momento fosse o acumular de anos de carícias e beijos e vontades inacabadas. Vestia uma camisola de lã preta sobre o corpo nu. Andava a passos largos em direcção ao mar que depois entrou nela como quem entra nos mais escondidos segredos da alma humana. Não falando, parecia que a mulher tacteava toda a sua vida e creio que se a tivesse ouvido respirar conheceria de que barulho é feito o bater do seu coração. Nessa noite escura, vi a mulher sentar-se sobre as águas, vi-a a agitar as águas e as ondas a nascerem onde antes estava apenas um poço de lágrimas. Vi surgir dos brilhos do mar a figura de uma criança. Uma criança de horas, como se nascesse daquele amor que era a mulher e o mar. Vi a mulher a tocar a criança e a guardá-la dentro de si, no sítio onde costuma estar o coração. Soube, imagino eu, que assisti ao nascimento de um amor, um amor como uma criança, nascido em noites de brilhos altos na água que cobre a areia que cobre todos os segredos do mundo. A mulher ficou no mar a noite toda. Eu adormeci na praia e quando acordei não soube discernir se vi ou se sonhei; mas sonhar também é acontecer, principalmente nas coisas do amor. Por isso vi. Tenho a certeza.

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