5/06/2011

Sombras e Anjos. O mar.


As luzes resplandeciam-lhe a pele. Tinha o corpo rígido por causa do frio que entrava nas janelas abertas ao mar como se a maré alta azul e brilhante entrasse por dentro da casa penetrando-a num abraço. As velas acesas faziam brilhos na parede como se o quarto onde a mulher se encontrava deitada fosse povoado de sombras disformes como almas encantadas. O único cheiro vinha do recipiente onde as brasas queimavam a mirra de forma incessante e contínua. A mulher estava nua sobre os lençóis brancos. Fechava os olhos e tocava a pele dizendo palavras desconexas como se gemesse. Aquele momento parecia eterno. Tocava-se e a pele ia arrepiando-se à passagem dos dedos,  os olhos estavam fechados e isso dava-lhe a oportunidade de criar mundos por dentro dos sonhos, por dentro do corpo. Tocava o sexo enquanto beijava o homem que a esperava na mente, nos sonhos, no plano de todas as coisas possíveis. Não houveram palavras. Apenas os gemidos desconexos que a mulher pronunciava como palavras, ou o contrário. Tocou o sexo húmido. As lágrimas corriam-lhe da face. O vento entrou pelo quarto gelando-lhe mais o corpo, como se o mundo envolvesse aquela mulher num abraço mudo. O orgasmo não tardou em chegar e com ele veio o descanso, o espaçar demorado entre cada inspiração. Tudo estava calmo, incluindo o mar e o vento que eram as únicas pessoas no quarto, junto com as invenções das sombras. A mulher debruçou-se sobre a cama e levantou-se. Descalça, tacteou o chão. Olhou-se ao espelho que estava em frente à janela. Começou a andar para trás na direcção da janela de onde veio a cair e num abraço gigante beijar o mar e fazer amor com ele. As sombras continuaram no quarto e parecia que transmitiam entre si a ideia da mulher que decidiu amar o impossível. A mirra parecia não terminar e o quarto cheirava ao paraíso, ao sítio onde os anjos se envolvem em beijos e fazem amor a todas as horas dizendo poemas com as mãos e escrevem romances com a ponta dos dedos nas costas uns dos outros.

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