Como era ela.

Esperneava quando se zangava, sorria, lia, via filmes estrangeiros a mastigar pipocas de forma ruidosa, ouvia música alta à noite, cantava, dançava, amuava, chorava, bebia água fresca no inverno, pensava na morte e no amor, recitava poemas durante as conversas com as amigas e elas não percebiam, usava óculos redondos, tinha um póster do James Dean na porta do guarda-vestidos desde os seis anos, penteava-se para o lado direito, gostava de vestidos curtos e blusas às bolas, comia gelados à lareira quando fazia frio, teve um cão, depois um gato, decidiu-se por dois peixes e quatro tartarugas quando fez trinta e um anos, masturbava-se e gemia baixinho, estudou direito por acreditar na injustiça dos homens, fez jornalismo para ver as coisas com minúcia cirúrgica, partiu um pé, andou no ginásio três meses, fez dieta, disse que nunca mais amaria depois de dois beijos à esquina com o James Dean lá da terra, comprou um carro e só depois tirou a carta, comprou dez vernizes Chanel apenas porque sim e amava-o sobre todas essas coisas.