Escrevo porque sofro e não é para abandonar a dor nas palavras que escrevo. Não escrevo para tentar esquecer, escrevo, também, porque morro e cada dia acaba por ser a minha morte e todos os instantes são essa perseguição de estar já morto. Não acordamos para viver, acordamos para fugir da morte que nos persegue no tempo. Recordar é ressuscitar, escrever é ressuscitar e é também viver por antecipação. Eu escrevo porque não posso viver tudo, não posso sentir tudo, não posso sofrer tudo. Escrever é só para mim, daí que me encontro nas vírgulas, ou nos pontos, ou na respiração acelerada de um frase má pontuada de propósito. Era capaz de passar a minha vida a escrever, fazer dessa a minha jornada para combater a morte e morrer agarrado a uma qualquer palavra que encerre o meu sofrimento e me faça escrever como última frase, ou último desígnio,
a minha vida cabe toda dentro dessa palavra, como um romance fantástico cheio de sofrimento e alegria e vida e morte e amor, exactamente por essa ordem.
Este blogue está fechado, encerrado, calado, até ao final do mês, porque ele precisa e eu preciso também.
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